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quinta-feira, 8 de maio de 2014

A indústria dos Ovnis


Por Joe Nickell

Não é de hoje que a humanidade busca no céu sinais de seres inteligentes. No século XX, surgiram os relatos sobre “objetos voadores não identificados”. Mas, até agora, não apareceu um único indício plausível de que a Terra já tenha sido visitada por extraterrestres.

Os primeiros relatos de estranhos objetos pairando entre as nuvens remontam à Antiguidade. Já houve a época das carroças e dos navios voadores. Mais tarde a moda foram os “homenzinhos verdes” – marcianos ou venusianos.

As naves possuíam hélices e asas. No início do século, em Paris, um concurso chegou a oferecer 100 000 francos para quem provasse que mantinha contato com seres extraterrestres. Marcianos não valiam.

Eram considerados fáceis demais. Naquela época, ninguém saía por aí dizendo que viu um ET marrom, roxo ou amarelo. Ou eram verdes, ou não eram ETs. Hoje, tudo mudou. Ufólogos aceitam ETs de todas as cores, procedentes de qualquer parte do Universo, menos de Marte ou Vênus, onde o máximo de vida que ainda pode se esperar são microscópicas bactérias.

Já imaginou o que seriam dos ETs se eles não seguissem a moda terrestre e continuassem a aparecer, todos de verde, viajando em caravelas celestiais? Felizmente, eles se mantiveram em dia com as novidades da nossa ciência e tecnologia. Caso contrário, o público provavelmente deixaria de acreditar em discos voadores.

Ezequiel e suas carroças voadoras

O Velho Testamento registra uma cena espetacular, que hoje seria interpretada pelos ufólogos como um típico caso de aparição de um Ovni (objeto voador não-identificado). O profeta Ezequiel descreve uma carroça com rodas de fogo que desceu dos céus até ele.

Esta visão foi amplamente difundida pelo escritor Erich von Däniken em seu livro Eram os Deuses Astronautas? como uma prova irrefutável de que a Terra tem sido visitada por alienígenas desde tempos remotos (Veja quadro na pág. 50). À luz do conhecimento científico atual, é fácil deduzir que Ezequiel teve uma ilusão de ótica causada pelo reflexo da luz do sol em cristais de água na atmosfera.

Na Idade Média, quando se incendiavam pessoas por qualquer motivo, várias mulheres foram mortas por terem visões estranhas. É claro que, na época da Inquisição, ninguém dizia ter contatos com seres extra-terrestres. Acreditava-se em duendes, fadas e demônios.

Os ETs ainda não tinham sido inventados. Naves espaciais tripuladas por alienígenas só despontaram no imaginário coletivo no fim do século passado. Foi naquela época que surgiram, nos Estados Unidos, os relatos sobre estranhos objetos voadores, em geral dotados de asas e hélices.

Claro, na época ainda não havia aviões. Existia, isto sim, um crescente interesse pelo tema das “máquinas voadoras”. Era uma época de avanços prodigiosos na tecnologia dos balões e dos dirigíveis, como o famoso Zepelin.

A invenção de um aparelho voador mais pesado do que o ar já era tida como iminente. Em outras palavras, a expectativa de ver aeronaves nos céus americanos favorecia que as pessoas realmente as “vissem”.

Pires que voam

A era moderna dos Ovnis se inaugurou no dia 24 de junho de 1947, quando o empresário Kenneth Arnold, pilotando seu avião particular sobre as montanhas do Estado de Washington, avistou o que descreveu como nove objetos em formato de pires, voando em formação militar.

Das duas uma: ou Arnold deu de cara com uma esquadrilha da Força Aérea ou teve uma miragem. O fato é que, a partir desse relato, o fenômeno dos discos voadores alçou vôo. Mais uma vez a realidade seguiu os passos da imaginação.

Revistas populares de ficção científica, como a famosa Amazing Stories, vinham publicando, havia alguns anos, histórias sobre visitantes extraterrestres. As capas estampavam curiosas naves em formato circular. Desde então, não se passa um dia sem que alguém, em algum lugar do mundo, conte um caso de discos voadores.

Quando esses depoimentos são adequadamente investigados, as “espaçonaves” quase sempre se revelam balões meteorológicos, aviões, meteoros, pára-quedas, nuvens ou alucinações. Tudo, menos ETs. Quanto às fotografias de “Ovnis”, elas geralmente se explicam por efeitos luminosos, ilusão de ótica ou fraude deliberada (veja quadro acima).

De acordo com o Dr. Allen Hynek (1910-1986), astrônomo encarregado do Programa de Pesquisas sobre Ovnis da Força Aérea dos Estados Unidos, um investigador experimentado, acaba por reconhecer a maioria desses eventos tais como eles realmente são: meteoros, imagens de aeronaves pousando com as luzes acesas, balões, planetas, estrelas brilhando muito forte, luzes de aviso em estradas, reentradas de espaçonaves na atmosfera e assim por diante. “Quando se descobre o quanto o público leigo está pouco familiarizado com luzes durante a noite, compreendemos por que tantos Ovnis são relatados e por que essa incidência tem aumentado”, escreveu Hynek.

As ocorrências mais comuns são as que envolvem balões. Esses objetos podem registrar altas temperaturas e, sob o impulso de fortes correntes de ar, atingir velocidades de mais de 200 quilômetros por hora. Podem até mudar de formato e cor, de acordo com o reflexo das luzes do sol na cobertura de plástico.

Um balão pode parecer branco num momento e, no outro, ser percebido como metálico, ganhando logo em seguida uma coloração vermelha. Na realidade, é tão comum que balões sejam reportados como Ovnis que, quando eles se perdem dos radares, costumam ser rastreados com base em depoimentos de pessoas que se apresentam para dizer que viram discos voadores.

Os incríveis camaleões dos céus

Muitos ufólogos admitem que a maior parte dos objetos relatados como Ovnis podem ser descartados como enganos ou fraudes. A polêmica se concentra sobre um pequeno resíduo, algo como 2% de casos insolúveis. As pessoas que acreditam em discos voadores encaram esses casos sem explicação como provas da existência de Ovnis e de visitas extraterrestres.

Elas simplesmente não conseguem explicar as ocorrências de outra maneira. Os cientistas se recusam a acreditar em ETs até que apareçam provas realmente convincentes.

Por trás dessa briga está o eterno conflito entre o método científico e as pseudociências. Toda vez que os cientistas anunciam uma nova descoberta, as crendices são obrigadas a empreender um recuo tático, como forma de sobrevivência.

No século passado acreditava-se piamente em marcianos e venusianos. A maioria dos relatos versava sobre seres pequeninos, de cabeça grande e cor esverdeada.

Na segunda metade do século 20, quando se descobriu que Vênus possui uma temperatura incompatível com a vida e que Marte é um deserto escaldante, os ufólogos se sentiram na obrigação de duvidar dos relatos de pessoas que diziam receber visitas de planetas vizinhos. A crença em alienígenas teve que ser empurrada para os confins do Universo.

Evidentemente, existem casos que resistem às explicações. Qual é a diferença entre a atitude dos cientistas e a dos ufólogos nessas ocasiões? Os ufólogos partem da premissa de que, se não existe explicação para um fenômeno estranho, isto é sinal da presença de algum ET.

Já os cientistas acham que isso é insuficiente como prova. Os mistérios de hoje podem ser facilmente explicados amanhã, ponderam. Os ufólogos não têm dado muita sorte até agora. Toda vez que vem a público uma suposta “prova” da visita de Ovnis, ela vira fumaça imediatamente, desmascarada como um fenômeno natural, um objeto comum ou, o que é pior, uma fraude.

Ovnis assassinos

No dia 7 de janeiro de 1948, quando o piloto americano Thomas Mantell morreu num acidente atribuído a uma colisão aérea com um Ovni, ninguém foi capaz de identificar a estranha “coisa” que Mantell estaria perseguindo. Observadores descreveram o objeto como semelhante a um pára-quedas, enquanto outros juravam que o aparato parecia “um sorvete de casquinha com a parte superior pintada de vermelho”.

Uma testemunha definiu o suposto Ovni como “uma enorme estrutura metálica”. A Marinha dos Estados Unidos logo descartou que o desastre tivesse sido causado por uma nave alienígena.

Décadas depois, quando informações que eram mantidas como segredo militar se tornaram públicas, soube-se que o tal Ovni não passava de um gigantesco balão de pesquisa. O capitão Mantell tinha voado alto demais ao perseguir o balão. Sofreu um desmaio devido à falta de oxigênio, o que provocou a queda do avião. 

A verdade foi escondida por causa dos soviéticos, do mesmo modo que, seis meses antes, os militares americanos permitiram que se criasse um clima de histeria em torno do chamado “caso Roswell” (veja quadro acima), no qual, supostamente, três alienígenas haviam sido capturados pelo exército americano.

Embora perfeitamente lógica no contexto da Guerra Fria, quando a União Soviética e os Estados Unidos se espionavam mutuamente, a explicação do acidente não convenceu os ufólogos.

Eles insistem que o avião de Mantell foi abatido por uma espaçonave alienígena. Crenças em acidentes de naves espaciais e preservação de humanóides foi disseminado por uma série de fraudes, incluindo o chamado relatório “MJ-12”, de 1980.

Esse documento apontava a existência de um complô, denominado Majestic 12, autorizado pelo próprio presidente americano Harry Truman (1884-1972), com o objetivo de encobrir o suposto acidente com os ETs.

O tal documento logo se revelou uma grosseira fraude. Mesmo assim, alguns ufólogos ainda são enganados por ele. Outra fraude ligada ao Caso Roswell foi o escatológico filme que mostrava a “autópsia de um extraterrestre”. O filme foi exibido amplamente na televisão americana e em todo o mundo, mas logo ficou provado que ele não passava de um engodo.

Socorro! Tem um ET atrás de mim!

Quem mais ajuda a difundir a crença em discos voadores não são os ufólogos, com suas versões muitas vezes bem intencionadas sobre visitas de alienígenas e seqüestros de humanos.

O que mais contribui para manter acesa a imaginação das pessoas propensas a acreditar em ETs são filmes. Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), ET (1982) e Independence Day (1996) foram imediatamente seguidos, logo depois de seus lançamentos, pelo aumento dos relatos sobre aparições de discos voadores e “alienígenas”.

Um filme que causou especial alvoroço foi The UFO Incident (1975), baseado num suposto seqüestro de um casal por ETs em 1961 – o famoso caso Betty and Barney Hill. Esse caso, de grande repercussão na imprensa sensacionalista, induziu milhares de americanos a se apresentarem dizendo que também foram seqüestrados por seres alienígenas de outros planetas.

Em todos essses casos, não se encontrou uma única gota de verdade. Isso não quer dizer que todos os que relataram experiências com ETs sejam mentirosos ou vigaristas. Suas versões podem ser explicadas como alucinações.

Numa situação típica, a pessoa acabou de se deitar ou é acordada no meio da noite pela visão de seres extraterrestres invadindo seus quartos. De repente, os vultos se dirigem para a escuridão e desaparecem, sem serem vistos por mais ninguém – nem mesmo pelos vizinhos.

As supostas naves pousam e decolam sem aparecer na tela dos radares ou chamar a atenção dos guarda-noturnos. O diagnóstico dos psicólogos é simples: trata-se, segundo eles, de um processo fantasioso que ocorre quando o indivíduo não está totalmente desperto do sono. A fantasia se mescla com a realidade, causando alucinações.

No início, essas pessoas têm apenas a sensação de um sonho vívido. Influenciadas pelas histórias sobre discos voadores na televisão e na imprensa, chegam à conclusão de que passaram, na vida real, por experiências que só aconteceram no mundo dos sonhos. O próximo passo é buscar ajuda de hipnotizadores, que os ajudam a reconstituir, em detalhes, todas as peripécias do “seqüestro”.

Hipnose fantasiosa

Apesar da crença popular sobre a hipnose como um meio confiável de devolver a memória perdida, ela é, quase sempre, um convite à fantasia. Muitas das lembranças que aparecem durante a hipnose não passam de memórias criadas no próprio inconsciente. Depois de várias sessões de hipnose, os “seqüestrados” costumam ficar confusos sobre o que é verdade e o que é fantasia.

Os psiquiatras e psicólogos que promovem a crença em seqüestros extraterrestres – como o Dr. John Mack, autor do livro Abduction: Human Encounters with Aliens (1994) – esquecem ou omitem evidências comprovando que muitos dos supostos “seqüestrados” apresentam fortes propensões a confundir fantasia com realidade.

E não são poucos. Pelo menos 5% do público geral têm propensões a crises fantasiosas. Um estudo dos 13 casos mais famosos do Dr. Mack demonstram que seus pacientes possuem muitos destes traços.

Não tenho dúvidas de que há uma forte possibilidade de existir vida – e seres inteligentes – em outras partes do Universo além da Terra. Infelizmente, até agora ufólogos e investigadores sérios têm falhado em demonstrar qualquer tipo de evidência material consistente que indique a visita de alienígenas na Terra. Até que isto ocorra, os chamados ufólogos continuarão sendo vítimas das fraudes e do folclore popular.

* Joe Nickell é um pesquisador do Comitê para a Investigação Científica de Alegações Paranormais (CSICOP), dos EUA, e editor da revista Skeptical Inquirer. Já escreveu e editou dezesseis livros sobre o assunto em vinte anos de investigação sobre fenômenos paranormais e supostas visitas de alienígenas.

Um comentário:

  1. NA VERDADE A POSSIBILIDADE DE OVNIS CONSTRUÍDOS POR HUMANOS JÁ FOI AVENTADA, SENDO PROJETADAS PELOS CIENTISTAS OTIS CARR, JOHN HUTCHINSON, PETER TOWNSEND, FRAN DE AQUINO

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