Nos próximos dias (15 e 16 de janeiro) cairá sobre a Terra uma torrente de poeira cósmica – os restos da cauda do recentemente desintegrado cometa C/2012 S1 (Ison). Se as partículas forem suficientemente grandes, os habitantes da Terra verão uma “chuva de estrelas”. No entanto, é mais provável que aconteça um outro fenômeno – nuvens noctilucentes. Os cientistas vão tentar recolher as partículas de poeira que caírem na Terra: elas devem conter a matéria mais antiga do sistema solar, talvez até mesmo com blocos de partículas orgânicas.
No final de novembro, o Ison veio para seu único e fatal encontro com nosso astro. Ele nasceu na nuvem de Oort – uma esfera gigante de blocos de gelo ao redor do sistema solar. Ainda nos tempos em que a jovem Terra não tinha sequer bactérias, o Ison começou a sua lenta caída para o Sol, acelerando gradualmente. Sua matéria leva uma marca intocada do meio interestelar. Por essa matéria na Terra começará uma caça, explica o físico nuclear Serguei Bulat:
“Quando o cometa chegou ao Sol, já trazia por trás de si uma nuvem de gás e poeira. Agora, em meados de janeiro, a Terra entra nessa cauda que surgiu antes do encontro do cometa com o Sol. A nossa tarefa é recolher os restos dessa poeira que não foi aquecida. Ela tem mais de 4 bilhões de anos. A ênfase é colocada em micropartículas de poeira, não superiores a alguns microns. São estas partículas que, ao entrarem na atmosfera da Terra, mesmo a altas velocidades, não se aquecem o suficiente para que se evaporem todos os materiais orgânicos que podem estar contidos nela.”
A colheita de grãos de poeira será conduzida três vezes até o final de janeiro pelos participantes da expedição russa na Antártida – o lugar mais limpo do mundo. O material congelado da estação Vostok será enviado para laboratório e examinado sob um microscópio eletrônico, disse Serguei Bulat:
“O essencial é atenção especial a compostos de carbono. Talvez existam lá blocos de vida, nucleotídeos ou aminoácidos. Se coletarmos essas partículas corretamente, é possível responder à pergunta se havia lá quaisquer blocos de vida ou não no momento da formação da Terra.”
Derretido pelo calor do Sol, o cometa se desintegrou completamente. Seus restos também seriam de interesse para a ciência. Infelizmente, eles não se cruzarão com a Terra, diz o astrônomo Dmitri Vibe:
“Em dezembro, o telescópio Hubble estava à procura da nuvem de fragmentos deixada pelo cometa depois de sua passagem perto do sol. Ela está muito longe da Terra, e não corremos o risco de uma colisão com ela: não iremos parar àquela parte do espaço. Tudo o que podemos ver são partículas que o cometa perdeu apenas antes de sua aproximação ao Sol.”
No entanto, o cientista duvida que grãos de poeira da cauda do cometa tenham tempo para cair na Antártida até o final de janeiro:
“A poeira fina irá congelar na atmosfera e irá descer muito lentamente junto com toda a outra poeira cósmica que a Terra recolhe durante seu movimento. Com quanta confiança poderemos relacionar essas partículas com o cometa Ison? Mesmo se encontrarmos estas partículas e determinarmos sua composição química, ligá-las a um corpo celeste particular vai ser difícil.”
Segundo o portal earthsky.org, partículas minúsculas de cometas podem flutuar no ar por até vários meses, causando um fenômeno bonito – nuvens noctilucentes. E uma “chuva de estrelas” provavelmente não haverá.
De qualquer forma, cometas são objetos pouco estudados e imprevisíveis, ora são possíveis quaisquer surpresas. O Ison já nos fez uma: não se tornou realidade a previsão segundo a qual ele deveria ter se tornado um dos mais brilhantes cometas do século e até mesmo ofuscar a Lua cheia. Assim teria acontecido se o corpo celeste não se tivesse desintegrado prematuramente.
Fonte: Voz da Rússia
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