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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Síndrome do Pânico: A mentira dos laboratórios


Por: Paulo Urban.

Médico psiquiatra e Psicoterapeuta do Encantamento. Diretor Clínico do Hospital Psiquiátrico ‘Casa de Saúde de São João de Deus’, São Paulo, de 1994 a 2000.

Síndrome do pânico? a pouca vergonha de bilhões de dólares

Texto de Paulo Urban (*), publicado na revista Universo Espírita, edição 46, setembro/2007
 
Formei-me há 18 anos, em 1989. Presumo, pois, tenha alcançado somente agora a “maioridade” nesta minha profissão, a de médico psiquiatra. Ao menos, posso hoje colher os resultados de alguma experiência clínica, algo mais consistente à arte de diagnosticar do que o mero olhar transversal diante dos sinais e sintomas com que as doenças nos desafiam a compreendê-las.

Falar da Síndrome do Pânico não é discorrer sobre o que não existe; malgrados os esforços da psiquiatria em espantá-la, debalde todos os remédios que há décadas se dizem capazes de exorcizar este demônio, o fato é que o Pânico acomete 2% a 3% da população geral, sendo uma das ocorrências psiquiátricas mais comuns nos pronto-socorros.

O Grito – óleo sobre tela de Edvard Munch (1893)

O Pânico caracteriza-se por uma crise generalizada de ansiedade, cujo aparecimento é súbito, sem um claro fator desencadeante. Por incidir abruptamente, usa-se o termo “ataque de pânico” para designar os episódios de suas crises, que extrapolam a ansiedade comum e trazem consigo um ar de catástrofe. Os ataques costumam ser intensos e passageiros, mas podem prolongar-se por algumas horas e trazem à tona um medo não específico; os que se deixam vitimar por ele temem morrer, perder o controle sobre seus atos ou enlouquecer. Um quadro assustador!

Seu mal-estar reúne um conjunto de sintomas físicos e emocionais que lhe são próprios; daí o nome síndrome. O Pânico se instala com palpitações e taquicardia, a respiração torna-se mais curta e mais rápida e advém um sufocamento; o corpo é tomado por estremecimentos, há sudorese, rubores e calafrios. Pode haver náusea, desconforto abdominal, dormências, vertigens, sensação de iminência de desmaio; outros fenômenos podem surgir, variando conforme os indivíduos.

 

O termo pânico provém de Pã; de todas as divindades gregas, sem dúvida é a que mais fortemente guarda seu caráter animal, seu estado instintivo. Pã é meio humano, meio bestial, tem chifres e patas de bode, é barbudo e peludo, dotado de horrenda expressão. Sua extrema feiúra é útil para afugentar os ladrões de rebanhos dos montes e vales da Arcádia, região sob sua proteção.

A tradição mais corrente considera Pã filho de Hermes com a ninfa Dríope. Rejeitado pela mãe, o recém-nascido teria sido levado pelo pai para viver com ele no Olimpo, onde se tornou motivo de alegria, dado a seu jeito brincalhão. Os deuses viram nele um sentido a mais para vida e o batizaram de Pã, que significa “tudo”, o que faz dele também um símbolo de esperança e de fecundidade. Junte-se o significado de seu nome ao pavor que sua presença inspira, e melhor entenderemos o significado dos termos “pane” ou “pânico”; haja vista o terror que toma tudo e a todos que estão a bordo sempre que um avião está avariado.

Antes dos anos 80, porém, tal doença nem existia. Enquanto cursava a faculdade, pude acompanhar o furtivo nascimento do Pânico. Ora, como pode ser isso? Quer dizer que algumas doenças, das quais até então nada se sabia, de repente, são paridas? Infelizmente, isso ocorre. Transtornos psiquiátricos os mais diversos continuam a nascer em nossos dias. Certas patologias vêm ao mundo conforme renomadas universidades as anunciam, numa prática direta ou indiretamente atrelada aos interesses dos laboratórios farmacêuticos, em seu desenfreado atropelo da saúde, a fim de garantir seus titânicos lucros econômicos.

 

Ao longo de todo o meu curso de graduação, as drogas largamente usadas no tratamento das depressões eram os chamados “antidepressivos tricíclicos”, cujo nome diz respeito à sua estrutura molecular. Sintetizados a partir da década de 60, eram o primeiro considerável avanço no manejo farmacológico das depressões, que desde os anos 50 vinham sendo obrigatoriamente tratadas pela única classe de antidepressivos existente, os chamados IMAO (inibidores da monoaminoxidase).

A terapêutica com IMAO, contudo, envolvia uma série de restrições alimentares que, se desrespeitada, podia causar nos pacientes a chamada “síndrome adrenérgica”: cefaléia, hipertensão, rigidez de nuca e dor torácica, decorrentes de uma intoxicação metabólica. Isto porque a monoaminoxidase, cuja ação é inibida pelo remédio, é uma enzima envolvida na degradação da tiramina, substância presente, sobretudo, nos queijos, carnes defumadas e nos vinhos.

Portanto, a nova classe de antidepressivos tricíclicos, que se podia tomar livre das dietas, conquistou o mercado. Foi assim que a clomipramina (cujo nome comercial – Anafranil – por questão histórica precisa estar aqui citado) logo se tornou a principal arma contra as depressões, e seu uso se alastrou com enorme rapidez pelos continentes.

Os produtores do Anafranil estavam cientes, porém, de que sua hegemonia estaria em breve ameaçada. Desde 1974, uma empresa química concorrente pleiteava junto à FDA (Food and Drugs Association) a aprovação de um potente antidepressivo: o cloridrato de fluoxetina, cuja ação farmacológica, até então inédita no tratamento das depressões, inibia seletivamente a recaptação da serotonina (um neurotransmissor), prolongando assim sua presença nas sinapses (espaços virtuais entre os neurônios), o que ajuda a melhorar o humor. O Prozac (segundo nome comercial que nos interessa) foi o pioneiro desta nova família de antidepressivos e sua aprovação pela FDA deu-se precisamente em 1987.

 

Lembro que em 1989 o Prozac entrava no mercado brasileiro, sustentado por uma ostensiva campanha publicitária direcionada aos médicos, que alardeava o fim das depressões. A expectativa sempre depositada sobre as novas drogas provocou um extraordinário aumento de prescrições de Prozac. Raros não se deixaram levar pelas promessas prozaquianas, respaldadas por trabalhos científicos – patrocinados, é claro, pelo laboratório interessado – que apontavam estatisticamente as vantagens dos “inibidores da recaptação de serotonina” em comparação com os repentinamente ultrapassados tricíclicos.

Tal a prepotência com que o Prozac se imiscuiu em nosso meio que, antes que curasse as depressões, provocou uma “lavagem cerebral” no pensamento clínico da época. Logo se deu um excesso de falsos diagnósticos de depressão, motivados pelo frenesi dos que queriam tomar ou prescrever a nova droga, cujo preço, por sinal, era elitista.

Woody Allen

O ator e cineasta Woody Allen, neurótico confesso, que por essa época se submetia a sessões de psicanálise todos os dias da semana, mantendo a seu dispor renomados psicanalistas em vários países do mundo, dispostos a atendê-lo durante as suas filmagens, foi um dos que primeiro viu na fluoxetina a sua salvação.

Admito que os interesses da indústria farmacêutica não tenham tido a idéia de comprar os seus serviços, mas o fato é que, surpreendentemente, Woody Allen passou a ser o maior garoto propaganda da nova droga, citando seu nome comercial com repetido entusiasmo em vários de seus filmes, fazendo do Prozac um notável astro de cinema. O remédio se tornou sinônimo de status e passou a ser chamado de “a pílula da felicidade”.

Ora, com Hollywood inopinadamente patrocinando a causa da fluoxetina, a indústria dos tricíclicos, que há quase 30 anos nadava nos lucros, viu-se ameaçada de morrer afogada em sua enorme produção, cujo destino seria mofar nas prateleiras das farmácias, pondo a perder os bilhões de dólares em jogo nas bolsas de mercado futuro. Afinal, o Prozac prometia realizar uma mágica que nenhum psicoterapeuta jamais soubera executar, a de eliminar para sempre de nossas vidas o descolorido da tristeza.

Por conta disso, nos Estados Unidos, uma horda de processos foi logo aberta contra vários psiquiatras, acusados de enganar seu pacientes, uma vez que tendo diagnosticado neles a depressão, propunham-se a tratá-los por meio de outras técnicas e psicoterapias, cujos resultados eram lentos, quando existia no mercado uma droga capaz de acabar com ela. Instaurou-se assim uma moderna caça às bruxas.

A Justiça estadunidense levou à fogueira inúmeros médicos; vários tiveram seus registros profissionais cassados. Um verdadeiro non sense, próprio de uma sociedade decadente que há muito já perdeu seu rumo. Houve quem vivesse o pandemônio de ter que explicar judicialmente o porquê de não ter preferido usar a fluoxetina em tratamentos que tinham se iniciado quando ela ainda nem existia! Hoje em dia, vários dos médicos que tiveram sua reputação abalada estão reabrindo os velhos processos, e alguns têm conseguido vultosas indenizações, ainda que os danos morais tenham sido traumáticos.

 

O primeiro golpe contra a fluoxetina foi a publicação de uma série de trabalhos científicos (patrocinados pelos laboratórios concorrentes) que evidenciavam um incremento dos índices de suicídio entre os usuários do Prozac. O remédio chegou a ter sua carreira artística provisoriamente proibida, afinal, sua eficiente ação farmacodinâmica realmente levantava o moral dos enfermos, mas como para a maioria dos deprimidos graves continuava a prevalecer a angústia e a estreiteza de campo vivencial frente aos desafios da existência, muitos destes concluíram que depressão alguma valia a pena, e que o melhor a se fazer era simplesmente acabar com a vida.

Com o humor significativamente melhorado pelo efeito bioquímico, os pacientes encontravam ao menos a força necessária para sair da completa apatia e cometer o suicídio. Mas o uso do Prozac logo seria novamente liberado, mediante a publicação de outros trabalhos científicos, patrocinados já sabemos por quem, que relativizavam seus efeitos colaterais bem como o suposto aumento das taxas de suicídio.

Tornou-se assim urgente que os fabricantes da droga concorrente pusessem em ação o plano que há alguns anos traziam bem guardado. O extraordinário tinha de ser feito, algo que lhes permitisse uma sobrevivência até que as coisas se acomodassem mais a frente, quando a realidade, acima de todas as promessas ilusórias, falaria por si, fazendo ver a médicos e pacientes que o Prozac, como qualquer outro antidepressivo, tem ação específica e limitada; se por um lado melhora certas condições clínicas, por outro traz consigo uma série de efeitos colaterais.

Era preciso, pois, encontrar uma maneira de desaguar a clomipramina, de modo que não se estagnasse sua alucinada linha de produção. Pois bem, curiosamente atendendo aos interesses dos fabricantes dos antidepressivos tricíclicos, convocou-se nos Estados Unidos, em 1983, em caráter extraordinário, um novo encontro da American Psychiatric Association (APA), cujos membros, pertencentes às principais universidades do país, formam um colegiado responsável pela formulação dos assim chamados Diagnostic and Statistical Manual (Manual Diagnóstico e Estatístico), ou DSM.

Tal publicação procura de tempos em tempos reclassificar as doenças e estabelecer suas bases diagnósticas, segundo critérios que envolvem várias tabelas e uma crua somatória de sintomas, próprias de um pensamento raso, validado por todas as escolas médicas do resto do mundo que se mantêm ideologicamente atreladas à psiquiatria estadunidense.

O DSM-I data de 1952. O DSM-II atualizaria o primeiro dali a 16 anos, em 1968; e o DSM-III seria publicado 12 anos mais tarde, em 1980, ampliando e atualizando as classificações das patologias feitas no DSM-II. Já o DSM-IV, conferindo a média, só foi publicado em 1994.

Por que então a pressa da APA em revisar o recém-publicado DSM-III, passados somente três anos de sua publicação? Qual razão oculta teria poder para convocar extraordinariamente todo um colegiado médico? Qual o grave equívoco a ser reparado? Ora, os produtores da fluoxetina, desde 1974 pressionavam a FDA para ver aprovado o Prozac.

Os laboratórios concorrentes, antevendo aí uma concreta possibilidade de falirem, trataram de fabricar a mágica que manteria por mais uma década a fabulosa venda dos antidepressivos tricíclicos. Nasceu assim a Síndrome do Pânico. Ela foi propositadamente incluída no DSM-III-R (“R” de revised, revisado), entre outros acréscimos e correções de somenos importância que juntos compunham um disfarce para os reais motivos a patrocinar esse evento.


A “revisão” do DSM encerrou-se em 1983. Embora muitos alegassem seu caráter de urgência, o fato é que o DSM-III-R restou mantido sob custódia acadêmica até 1987, sendo publicado justamente quando ocorria a aprovação do Prozac pela FDA. Coincidência ou estratégia?

Sigmund Freud (1856-1939)

Neste ponto os leitores, principalmente os que já se viram vitimados por essa síndrome, estarão se perguntando: mas como pode ser o Pânico uma mera invenção se ele é algo real que me aflige? Ora, não estou aqui negando sua ocorrência, conforme disse de início. O fato é que ela nada mais é que uma roupagem nova encontrada pela psiquiatria estadunidense para o clássico quadro de neurose de angústia, conforme minuciosamente descrito por Freud (1856-1939) em ‘A Neurastenia e a Neurose de Angústia’, publicado em 1895, um século antes da “cobra criada” pela APA.

Desde 1893, percebe-se pela correspondência trocada com o médico Wilhelm Fliess (1858-1928), que o pai da psicanálise já se preocupava em separar a neurose de angústia dos demais quadros neuróticos, como a histeria e a neurastenia, por exemplo. Freud explica: “Damos a esse complexo de sintomas o nome de neurose de angústia, pela circunstância de que todos os seus componentes podem ser agrupados em torno de um principal, que é a angústia”. Freud explora detalhadamente toda a sintomatologia relacionada à angústia, buscando classificá-la em suas diversas formas, entre outras a angústia crônica, a espera ansiosa, o pavor noturno e os ataques de angústia.

Estes últimos, bem caracterizados por Freud, item por item, do “a” ao “i”, numa listagem completa de sintomas: palpitações e taquicardia, arritmias breves, perturbações da respiração, que se torna ofegante; ataques de suor, disfunções intestinais, vertigens e tonturas, tremores e convulsões motoras, parestesias, sensação de desmaio iminente por ação vasomotora. Sintomas estes, todos cruamente copiados pelo DSM-III-R como os principais critérios para diagnóstico do Pânico. Estão todos lá, basta conferir!

Em seguida Freud cita algumas fobias próprias do ataque de angústia e se detém a comentar o grupo das agorafobias (medo de espaços abertos) e suas espécies secundárias. Sem sequer citar a fonte, o DSM-III-R faz igualmente constar logo após a descrição da Síndrome de Pânico, uma tabela pela qual se caracteriza o Distúrbio de Pânico com Agorafobia. Falta à APA saber pensar a clínica ou é mero caso de apropriação intelectual indébita, própria de um país onde a Justiça já perdeu seu rumo?

 

No Brasil, a Síndrome do Pânico foi apresentada ao povo ao longo de três domingos consecutivos, em horário nobre, quando milhões de pessoas tinham por costume assistir a um programa que, contrariando a regra comum, há mais de 30 anos está no ar na mesma emissora.

No primeiro domingo apresentou-se a temível doença do Pânico, no domingo seguinte os repórteres colheram depoimentos de pessoas que sofriam desse mal, dando veracidade à matéria anterior e, para então salvar o mundo da histeria coletiva da nova epidemia que já se alastrava pelos consultórios e hospitais do país, o terceiro programa deu voz a um médico que, do alto de seu douto saber nos ensinou a todos que nada tínhamos a temer diante da Síndrome do Pânico, seu tratamento, conforme preconizado pela APA, era simples: Anafranil 25mg, dose única diária. Não é fantástico?

Passados alguns congressos em que o Pânico era o astro, como os 25mg não resolveram a angústia nossa de cada dia, passou-se a receitar 50mg ao dia, em duas doses de 25mg e, meses mais tarde, a dose diária de 75mg, em três tomadas. Tão lucrativo estava vender clomipramina que seus fabricantes resolveram facilitar a vida de seus clientes, colocando então no mercado comprimidos de 75mg. Mas nem assim o Pânico foi curado. Por essa época, ai do herege que receitasse qualquer outra droga que não o Anafranil diante de um caso de Pânico; seria execrado por contrariar os manuais de conduta médica.


Em nossos dias, passada a febre ditatorial acadêmica sob a “descoberta do Pânico”, e com “outras novas doenças” querendo disputar a mídia, qualquer prescrição contra o Pânico pode ser usada, sem que os médicos responsáveis por elas venham por isso ser taxados de temerários. Há até quem aconselhe a tratar o Pânico com neurolépticos em vez de antidepressivos ou ansiolíticos; hoje vale usar até mesmo o velho Prozac.

crédito de imagem: Prestígio Editorial, selo da Ediouros Publicações.

De meu lado, em toda minha clínica nunca precisei diagnosticar o Pânico. Nem nunca me propus a curá-lo por meio de remédios, senão, quando preciso, aliviar em algum nível seu mal-estar por meio bioquímico. Prefiro reconhecer a psicodinâmica da neurose de angústia a crer que um agregado de tabelas modernas com somatórias de sintomas possa dirigir meu diagnóstico.

A propósito, as medicações psiquiátricas não curam coisa alguma. Elas são úteis nos tratamentos das psicoses e neuroses, ajudam realmente a melhorar ou equilibrar certos estados graves de humor, mas seu uso deve ser sempre o mais discriminado possível. E ainda não nasceu uma droga capaz de acabar com a angústia, em que pesem as profecias do pensamento neurocientífico.

Segundo a psicanálise, a neurose de angústia encontra-se fundamentada sobre o acúmulo de tensão da libido, para Freud algo de natureza estritamente sexual. Na má resolução ou insuficiência dessa energia estaria a origem dos ataques de angústia. Procurando provar sua tese, Freud argumenta que os sintomas dos ataques, guardadas as suas proporções, estão igualmente presentes no coito, quando o nosso coração dispara, tornamo-nos ofegantes, apresentamos tremores, calafrios, suores etc…

Ilustração de Gaspari e Uggeri

A partir dos anos 30 do século XX, surgiu um novo pensamento clínico, de base existencialista, que trouxe um aprofundamento à questão. Os existencialistas consideram que a condição humana só se pode conhecer pela experiência da angústia, mais claramente presente sempre que somos chamados a exercer o arbítrio, a escolher entre isto ou aquilo; afinal, toda escolha gera dor.

Indo além, por trás de todo ataque de angústia, em última análise, mora a idéia que menos nos agrada, em verdade nossa única certeza, a certeza da morte. Por isso, diz-se que a angústia genuína é vital. Em suma, atrás do ataque de pânico, esconde-se o fantasma da morte. Qual remédio pode exorcizá-lo?

Preso à sua angústia essencial, o ser humano tende ao desespero, e sua vida pode mesmo transformar-se num inferno, sendo o pânico nada mais que a somatização irracional daquilo que sempre é, em última instância, o medo que temos da morte. Para sair do desespero, único caminho sensato, longe das muletas farmacológicas, é o do auto-conhecimento.

Luz da Alma – foto de Andrea Camargo

Quanto mais distante esteja o homem das fórmulas bioquímicas e mais perto se coloque de si mesmo, mais poderá encarar o escuro de seu mundo interior. Só vivenciando a angústia, jamais fugindo dela, é que poderemos encontrar caminhos mais luminosos que façam a alma respirar melhor diante da opressão da realidade cotidiana.

Por isso entendo que todos os pacientes tratados simplesmente por medicamentos, quando melhoram do chamado Pânico, não o fazem pelo efeito dos remédios, senão porque passados tantos anos de convívio com a doença, descobrem recursos próprios mais eficientes, com os quais aprendem a suportar melhor a carga da existência. Assim como os deuses viram em Pã um sentido para a vida, as crises de Pânico nos fazem provar de nosso “todo” emocional, e nos levam a enxergar pontos vitais que, se bem trabalhados, nos levam ao crescimento pessoal.

Psicoterapia, meditação e práticas vivenciais terapêuticas como a hiperventilação, por exemplo, são nossas melhores chances contra o pânico; não obstante jamais possam eliminar toda a angústia, nos ensinam a lidar melhor com ela, fazendo da vida uma experiência mais saudável. É preciso mergulhar fundo em nosso mundo emocional para resgatar de nosso âmago a semente de felicidade perdida, que laboratório químico algum do mundo irá sintetizar um dia. 

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